segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ok, sou um estúpido...

Se você leu o título e pensa que eu assumirei a minha estupidez, você errou. Não preciso assumir algo que os demais irão julgar. Porém, todos os dias fazemos coisas estúpidas,  dizemos coisas estúpidas e agimos de forma estúpida sem sequer notar, desconfiar e pior, achamos que estamos abalando. Que nada, um idiota que apenas não sabe o quão idiota é.
Apesar de olharmos ao redor e julgarmos o tempo todo os outros, nós mesmos estamos o tempo todo sob holofotes. E somos julgados o tempo todo por agir como um idiota. Tá, mas vocÊ não sabe quando é um idiota? Eu, por mais sendo um tapado na maior parte das vezes posso dar umas dicas. Aí vai.
Primeiro: crenças infundadas em coisas sem sentido são provas de estupidez. Por exemplo, olhar para o relógio e ver que o mesmo número nas horas e minutos, como 18:18, enviar três beijinhos e fazer um pedido é algo estúpido. Pois afinal é realmente surpreendente a coincidência. Mas a quem estou enviando os beijinhos, ou fazendo o pedido? Ao relógio? Por favor, não façam isso para não parecerem idiotas. Não tuitem isso. É besta. É uma coincidência apenas. Imagina o que o sujeito vai fazer se cair um raio em cima da própria cabeça?
Segundo: horóscopo é uma coisa genérica, dita de forma genérica, para pessoas genéricas. ou seja, qualquer recomendação, serve para qualquer um. Quer ver? "Sagitário: Você é uma pessoa sorte, que tem muita confiança em si mesmo e que busca a felicidade acima de tudo." Se reconheceu nessa expressão? Lógico, ela é genérica e eu acabei de inventar. Ou seja, acreditar que a sua sorte (outra grande estupidez) é encontrada, vista, prevista em palavras genéricas é sem noção. Não acredito em horóscopos, mas essa é uma característica dos escorpianos, como eu. Balela. Se essa coisa desse certo, o meu viria escrito o seguinte: "Escorpião: sujeito indignado que gosta de bolo de cenoura, mas odeia cebola." "Sorte para amanhã: jogue na megasena: 12- 25-33-35-47-49". Como nunca vi nada assim, não acredito. Mas se você jogar esses números e ganhar, seja honesto e me dê metade.
Terceiro: Coisas sérias exigem seriedade. Coisas que não são sérias, não merecem seriedade. O que eu quero dizer é que pessoas que perdem o tempo com futilidade estão fazendo coisas estúpidas. Ou seja, assistir TV Fama e saber dos babados da vida dos famosos não te deixará mais inteligente, nem ao menos será algo que irá acrescentar algo novo na sua vida ou no mundo. Assim, se você ouvir falar que o Gianechini é gay, ou que o cara do Rebolation fez depilação na nádega esquerda, não abalará a bolsa de valores de Nova York, nem causará uma hecatombe mundial levando ao fim de todas as espécies de ursos pandas chineses. Isso é estupidez.
Quarta: gosto não se discute, se lamenta. Melhor ainda, gosto se discute sim. Não o gosto em si, mas o que leva alguém a gostar de algo. Assim como política se discute sim, e religião se discute sim. Essa última deve ser vista, aliás com respeito, e a fé em si não deve ser discutida, mas e a construção e finalidade e dogmas impostos pela religião? Tudo deve ser debatido, compreendido e estudado. Estupidez é não ter argumento para se discutir. Da mesma forma, ditos populares são expressões máximas da estupidez humana. Como a ideia de que o trabalho dignifica o homem. Pergunta para um boia fria o quão digno ele se sente ao comer seu rango azedo.
Última coisa: vou te contar um segredo. Sério. Quer saber o que fazer para se dar bem na vida sem ter que fazer porcaria nenhuma? Peça e será atendido. Simples. Pense e mentalize e irá ocorrer. Ora, vamos, auto-ajuda só ajuda quem fez o livro, falou o óbvio ou acha que criou algo tão surpreendente que todos agora irão seguir. Todos conhecem o segredo. E o segredo é que não existe segredo. E estupidez é achar o contrário.
Chega. Se você leu até aqui parabéns! Leve esse conselho a sério e irá se dar bem. Se não quiser, acredite no título, pois já afirmo: Ok, sou estúpido...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

melhor que Rá-Tim-Bum



eu queria montar um desses desde rá-tim-bum...

TROPA DE ELITE: A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA!

TROPA DE ELITE:
A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA!

                                        
                                                                         (Ivan Pinheiro)

"Homem de preto.
Qual é sua missão?
É invadir favela
E deixar corpo no chão"
(refrão do BOPE)

Não dá cair no papo furado de que "Tropa de Elite" é "arte pura" ou "obra aberta". Um filme sobre questões sociais não podia ser neutro. Trata-se de uma obra de arte objetivamente ideológica, de caráter fascista, que serve à criminalização e ao extermínio da pobreza. É possível até que os diretores subjetivamente não quisessem este resultado, mas apenas ganhar dinheiro, prestígio e, quem sabe, um Oscar. Vão jurar o resto da vida que não são de direita. Aliás, você conhece alguém no Brasil, ainda mais na área cultural, que se diga dedireita? 

Como acredito mais em conspirações do que no acaso, não descarto a hipótese de o filme ter sido encomendado por setores conservadores. Estou curioso para saber quais foram os mecenas desta caríssima produção, que certamente foi financiada por incentivos fiscais.

         O filme tem objetivos diferentes, para públicos diferentes. Para os proletários das comunidades carentes, o objetivo é botar mais medo ainda na "caveira" (o BOPE, os "homens de preto"). O vazamento escancarado das cópias piratas talvez seja, além de uma estratégia de marketing, parte de uma campanha ideológica. A pirataria é a única maneira de o filme ser visto pelos que não podem pagar os caros ingressos dos cinemas. Aliás, que cinemas? Não existe mais um cinema nos subúrbios, a não ser em shopping, que não é lugarde pobre freqüentar, até porque se sente excluído e discriminado.

No filme, os "caveiras" são invencíveis e imortais. O único que morre é porque "deu mole". Cometeu o erro de ir ao morro à paisana, para levar óculos para um menino pobre, em nome de um colega de tropa que estava identificado na área como policial. Resumo: foi fazer uma boa ação e acabou assassinado pelos bandidos.

Para as classes médias e altas, o objetivo do filme é conquistar mais simpatia para o BOPE, na luta dos "de cima", que moram embaixo, contra os "de baixo", que moram em cima. 

Os "homens de preto" são glamourizados, como abnegados e incorruptíveis. Apesar de bem intencionados e preocupados socialmente, são obrigados a torturar e assassinar a sangue frio, em "nosso nome". Para servir à "nossa sociedade", sacrificam a família, a saúde e os estudos. Nós lhes devemos tudo isso! Portanto, precisam ser impunes. Você já viu algum "caveira" ser processado e julgado por tortura ou assassinato? "Caveira" não tem nome, a não ser no filme. A "Caveira" é uma instituição, impessoal, quase secreta.

         Há várias cenas para justificar a tortura como "um mal necessário". Em ambas, o resultado é positivo para os torturadores, ou seja, os torturados não resistem e "cagüetam" os procurados, que são pegos e mortos, com requintes de crueldade. Fica outra mensagem: sem aquelas torturas, o resultado era impossível.

Tudo é feito para nos sentirmos numa verdadeira guerra, do bem contra o mal. É impossível não nos remetermos ao Iraque ou à Palestina: na guerra, quase tudo é permitido. À certa altura, afirma o narrador, orgulhoso : "nem no exército de Israel há soldados iguais aos do BOPE".

Para quem mora no Rio, é ridículo levar a sério as cenas em que os "rangers" sobem os morros, saindo do nada, se esgueirando pelas encostas e ruelas,  sem que sejam percebidos pelos olheiros e fogueteiros das gangues do varejo de drogas! Esta manipulação cumpre o papel de torná-los ainda mais invencíveis e, ao mesmo tempo, de esconder o estigmatizado "Caveirão", dentro do qual, na vida real, eles sobem o morro, blindados. O "Caveirão", a maior marca do BOPE, não aparece no filme: os heróis não podem parecer covardes!

O filme procura desqualificar a polêmica ideológica com a esquerda, que responsabiliza as injustiças sociais como causa principal da violência e marginalidade. Para ridicularizar a defesa dos direitos humanos e escamotear a denúncia do capitalismo, os antagonistas da truculência policial são estudantes da PUC, "despojados de boutique", que se dão a alguns luxos, por não terem ainda chegado à maioridade burguesa.

Os protestos contra a violência retratados no filme são performances no estilo "viva rico", em que a burguesia e a pequena-burguesia vão para a orla pedir paz, como se fosse possível acabar com a violência com velas e roupas brancas, ou seja, como se tratasse de um problema moral ou cultural e não social.

A burguesia passa incólume pelo filme, a não ser pela caricatura de seus filhos que, na Faculdade, fumam um baseado e discutem Foucault. Um personagem chamado "Baiano" (sutil preconceito) é a personificação do tráfico de drogas e de armas, como se não passasse de um desses meninos pobres, apenas mais espertos que os outros, que se fazem "Chefe do Morro" e que não chegam aos trinta anos de idade, simples varejistas de drogas e armas, produtos dos mais rentáveis do capitalismo contemporâneo. Nenhuma menção a como as drogas e armas chegam às comunidades, distribuídas pelos grandes traficantes capitalistas, sempre impunes, longe das balas achadas e perdidas. E ainda responsabilizam os consumidores pela existência do tráfico de drogas, como se o sistema não tivesse nada a ver com isso!

O Estado burguês também passa incólume pelo filme. Nenhuma alusão à ausência do Estado nas comunidades carentes, principal causa do domínio do banditismo. Nenhuma denúncia de que lá falta tudo que sobra nos bairros ricos. No filme, corrupção é um soldado da PM tomar um chope de graça, para dar segurança a um bar. Aliás, o filme arrasa impiedosamente os policiais "não caveiras", generalizando-os como corruptos e covardes, principalmente os que ficam multando nossos carros e tolhendo nossas pequenas transgressões, ao invés desubirem o morro para matar bandido.

         A grande sacada do filme é que o personagem ideológico principal não é o artista principal. Este, branco, é o que mais mata. Ironicamente, chama-se Nascimento. É um tipo patológico, messiânico, sanguinário, que manda um colega matar enquanto fala ao celular com a mulher sobre o nascimento do filho.

Mas para fazer a cabeça de todos os públicos, tanto os "de cima" como os "de baixo", o grande e verdadeiro herói da trama surge no final: Thiago, um jovem negro, pacato, criado numa comunidade pobre, que foi trabalhar na PM para custear seus estudos de Direito, louco para largar aquela vida e ser advogado. Como PM, foi um peixe fora d\'água: incorruptível, respeitava as leis e os cidadãos. Generoso, foi ele quem comprou os óculos para dar para o menino míope. Sua entrada no BOPE não foi por vocação, mas por acaso.

Para ficar claro que não há solução fora da repressão e do extermínio e que não adianta criticar nem fazer passeata, pois "guerra é guerra", nosso novo herói se transforma no mais cruel dos "caveiras" da tropa da elite, a ponto de dar o tiro de misericórdia no varejista "Baiano", depois que este foi torturado, dominado e imobilizado. Para não parecer uma guerra de brancos ricos contra negros pobres, mas do bem contra o mal, o nosso herói é um "caveira" negro, que mata um bandido "baiano", de sua própria classe, num ritual macabro para sinalizar uma possibilidade de "mobilidade social", para usar uma expressão cretina dos entusiastas das "políticas compensatórias".

A fascistização é um fenômeno que vem sendo impulsionado pelo imperialismo em escala mundial. A pretexto da luta contra o terrorismo, criminalizam-se governos, líderes, povos, países, religiões, raças, culturas, ideologias, camadas sociais.

Em qualquer país em que "Tropa de Elite" passar, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, o filme estará contribuindo para que a sociedade se torne mais fascista e mais intolerante com os negros, os imigrantes de países periféricos e delinqüentes de baixa renda.

No Brasil, a mídia burguesa há muito tempo trabalha a idéia de que estamos numa verdadeira guerra, fazendo sutilmente a apologia da repressão. Sentimos isso de perto. Quantas vezes já vimos pessoas nas ruas querendo linchar um ladrão amador, pego roubando alguma coisa de alguém? Quantas vezes ouvimos, até de trabalhadores, que "bandido tem que morrer"?

Se não reagirmos, daqui a pouco a classe média vai para as ruas pedir mais BOPE e menos direitos humanos e, de novo, fazer o jogo da burguesia, que quer exterminar os pobres, que só criam problemas e ainda por cima não contam na sociedade de consumo. Daqui a pouco, as milícias particulares vão se espalhar pelo país, inspiradas nos heróicos "homens de preto", num perigoso processo de privatização da segurança pública e da justiça. Não nos esqueçamos do modelo da "matriz": hoje, os mais sanguinários soldados americanos no Iraque são mercenários recrutados por empresas particulares de segurança, não sujeitos a regulamentos e códigos militares.

Parafraseando Bertolt Brecht, depois vai sobrar para nós, que teimamos em lutar contra o fascismo e a barbárie, sonhando com um mundo justo e fraterno.

A trilha sonora do filme já avisou:

"Tropa de Elite,
Osso duro de roer,
Pega um, pega geral.
Também vai pegar você!"

Pede prá sair...

Ontem fui ao cinema assistir "Tropa de Elite II". E fiquei impressionado. Não tanto pela violência já esperada, mas pela trama bem amarrada e pela excelente atuação de todos os atores envolvidos. Gostei mesmo.

Só tem um problema: filme brasileiro tende a mostrar traços da realidade. E esse é mais um. Problemas sociais. Corrupção. Estado ineficiente. Polícia incompetente. Milícias, traficantes e coisas do tipo. Mas como no primeiro filme, o que mais me chocou foi o que já havia me chocado no primeiro filme: a barbárie. E como as pessoas gostam disso. Aliás, esse filme já havia provocado uma gigante discussão a respeito da indústria cultural e da forma e desigualdade na distribuição cinematográfica. Aliás eu poderia ter baixado filme e assistido no conforto do meu lar, comendo pipoca de micro-ondas. Mas eu tinha que ir ao cinema e ver a reação do público. E eu vi. fiquei do lado de um cara que vibrava a cada tiro, soco ou xingamento desferido pelo Nascimento. Ou seja, bandido bom é bandido morto, isso é o que o rapaz pensava.

Engraçado que justamente o que mais foi discutido no primeiro filme, do seu lado de fora, foi levado até as telas, ou seja a questão dos direitos humanos e o porquê da violência do filme. O fato de ser um tanto fascista. Classista. Isso ele ainda é. A população passa incólume. Não tem voz, não tem vez. É mera espectadora passiva.

Como se não houvesse saída possível, ela ainda aceita de cabeça baixa a pretensa ação da suposta milícia. Mas e o Estado, onde estava? Todo mundo é tão facilmente corruptível assim? Tão passivo, tão imoral, alheio a tudo e a todos?

Outro ponto interessante é a questão da política. engraçado é o filme ser lançado só após as eleições. Não o fosse, será que o Sr. Wagner Montes seria eleito deputado?

Quando foi lançado o primeiro filme, recebi um e-mail de um amigo com um texto sobre o primeiro filme. vou colocar aqui para que vocês possam ter uma ideia do que há por trás de algo tranquilo como um filme de ação. E porque filme brasileiro tem que falar de problemas sociais. É que aqui não precisamos inventar motivos para violência, criminalidade. O terrorismo está nas ruas, está no Estado. É aí que eu lembro de uma frase do Marcelo D2 sobre a função da polícia: servir e proteger, servir a quem? Proteger de que?


E aí, você é fã do agora Tenente Coronel Nascimento? Berra aí, berra!!
Mas se você me der um desses, vou achar muito legal!!