terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O Poder do Mito - Por Ricardo Parra Catarina


O mito: construção racional-simbólica
A princípio temos a idéia de mito ligada a uma explicação estapafúrdia para algum acontecimento, algum feito, que, no entanto, não tem qualquer sentido de verdade, lógica e racionalidade. Aliás, o mesmo opera em uma lógica distante e diferente do que o pensamento dito científico e dito moderno nos coloca como explicação de mundo. Assim, mitos seriam apenas histórias fantasiosas que operam em um outro  sentido que não o lógico-ocidental-cartesiano e que por isso seria inválido.  A própria antropologia evolucionista resolveu o problema dos mitos associando-os a sociedades “primitivas” frente a fenômenos impactantes (como a morte, a origem do mundo). Seriam explicações primitivas, falsas; nada além de uma proto-ciência (LOPES DA SILVA; 2005; p. 324).
Todavia, podemos encontrar esses mitos (mitos fundadores, explicações para uma característica) em diversos povos do mundo, através da história, e/ ou encarcerados dentro de outras narrativas maravilhosas, onde acabam encontrando colaborações das ciências para que “deixem” de ser mitos”” (vide os inúmeros estudos e tentativas de explicações para eventos bíblicos, tais como a travessia do mar Vermelho feita por Moisés).[1]
Além disso, o mito tem um fundamento moral, no qual podemos dizer que as explicações dadas servem para afirmar ou negar determinados tipos de comportamentos e buscam dar explicações para elementos nocivos ou positivos para as sociedades envolvidas que aparecem então em forma de leis, regras, normas, tabus. Claude Levi-Strauss viria a discutir em sua antropologia estruturalista justamente essa função do mito, de estruturar sociedades a partir de totens e portanto tabus.
A sincronicidade e os arquétipos (presentes, por exemplo, na teoria jungiana) apresentados em mitos de diversos locais, em diversas culturas, nos dão, porém, a idéia da importância do mesmo nos nossos dias. Mais do que pensar esses mitos, é importante pensar que a sua lógica corresponde a uma lógica outra, anti-cartesiana por vezes.
Mitos podem ser vistos como narrativas simbólicas da origem do mundo. Por serem simbólicos, é necessário conhecer esses símbolos para compreender e traduzir esses mitos, que no entanto, farão sentido àqueles que compartilham desses símbolos, dentro de um contexto cultural.
Pensar que os mitos não possuem sentido, racionalidade, é deixar de lado que essas explicações fazem sentido para quem as utiliza. Assim, não são mitos e sim uma realidade, algo tão palpável, sensível e palatável quanto a física quântica e suas possibilidades teóricas, pautadas em uma racionalidade dita científica. Não podemos supor que o mythos se oponha ao logos, pelo simples fato de que há um logos dentro do mito, ou seja, o mito assimila e exercita esse logos. E a maior prova disso é o senso comum (LOPES DA SILVA; 2005; p. 327).  Se a explicação é suficiente, ela serve mais do que conceitos científicos arrojados e que não fazem sentido aos interlocutores.
Esse tipo de pensamento positivista, herdeiro de Auguste Comte pode ser alocado em sua “Lei dos Três Estados” que coloca esses mitos no estado teológico, no qual “se explica a realidade apelando para entidades supranaturais (os ‘deuses’), buscando responder a questões como ‘de onde viemos?’ e ‘para onde vamos?’; além disso, busca-se o absoluto”; (ARON; 2007) Porém na teoria de Comte este é o mais afastado do estado derradeiro e último, o positivo, ligado ao como, a ciência e ao progresso.[2]
            Os mitos traduzem sociedades e culturas, o que nos faz pensar que não devemos deslocar os mesmos como simples narrativas, transformando-os em lendas que, fora do contexto, se transformaram em mais uma história moralizante e/ ou fantástico-fantasiosa.
            Os mitos, por serem transmitidos através da oralidade, perdem em poder em relação da palavra escrita. Da mesma forma que um contador arroja o seu conto a plateia, alguém que compila os mitos em forma de lendas, com a boa intenção (devemos crer nisso?) de divulgar a cultura (no caso, a indígena, apenas como um exemplo), vai se utilizar de conceitos que pertencem àqueles que leem e não aqueles sobre os quais se fala. Os mitos, muitos verdadeiras cosmologias, com altíssimo grau de complexidade, são arranjados sob a forma escolhida pela editora, nivelado a histórias infantis, pueris, retiradas de contexto lógico-racional e visto como uma história contada ao pé da fogueira apenas como entretenimento, e não como uma forma de viver o mundo, viver no mundo e entender a si e ao outro.
Considerações finais
            Percebemos que os mitos apaziguam o espírito humano, tanto quanto a ciência. Servem de explicação para coisas que não temos como ou não podemos explicar. Diferem da ciência e da filosofia por se pautar em lógicas outras, mas por ser amplamente aceito nas culturas que estruturam (havendo uma relação dialética entre a estrutura da sociedade e o mito), possui caráter de verdade.
Por ser simbólico, dá margens a uma ampla variedade de interpretações, mas que, no entanto, não deve ser visto como lenda (algo preso no passado, na memória, estático), ou destituído de seu contexto original e sim como algo dinâmico e fonte de explicações para a sociedade em que é presente.


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Bibliografia
LOPES DA SILVA, Aracy; Mito, razão, história e sociedade: inter-relações nos universos sócio-culturais indígenas, in A temática indígena na escolaI (coletânea); MEC/MARI/UNESCO; Brasília: 2005.
ARON, Raymond; As etapas do pensamento sociológico; Dom Quixote, Rio de Janeiro: 2007.
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito / Joseph Campbell, com Bill Moyers; org. por Betty Sue Flowers; tradução de Carlos Felipe Moisés. - Palas Athena; São Paulo: 1990.

[1] Observe um exemplo em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/divisao-do-mar-vermelho-e-explicada-por-cientistas – acessado em 3/12/2010.
[2] Lembrando que a própria bandeira nacional brasileira traz o lema positivista, “Ordem e progresso”

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ok, sou um estúpido...

Se você leu o título e pensa que eu assumirei a minha estupidez, você errou. Não preciso assumir algo que os demais irão julgar. Porém, todos os dias fazemos coisas estúpidas,  dizemos coisas estúpidas e agimos de forma estúpida sem sequer notar, desconfiar e pior, achamos que estamos abalando. Que nada, um idiota que apenas não sabe o quão idiota é.
Apesar de olharmos ao redor e julgarmos o tempo todo os outros, nós mesmos estamos o tempo todo sob holofotes. E somos julgados o tempo todo por agir como um idiota. Tá, mas vocÊ não sabe quando é um idiota? Eu, por mais sendo um tapado na maior parte das vezes posso dar umas dicas. Aí vai.
Primeiro: crenças infundadas em coisas sem sentido são provas de estupidez. Por exemplo, olhar para o relógio e ver que o mesmo número nas horas e minutos, como 18:18, enviar três beijinhos e fazer um pedido é algo estúpido. Pois afinal é realmente surpreendente a coincidência. Mas a quem estou enviando os beijinhos, ou fazendo o pedido? Ao relógio? Por favor, não façam isso para não parecerem idiotas. Não tuitem isso. É besta. É uma coincidência apenas. Imagina o que o sujeito vai fazer se cair um raio em cima da própria cabeça?
Segundo: horóscopo é uma coisa genérica, dita de forma genérica, para pessoas genéricas. ou seja, qualquer recomendação, serve para qualquer um. Quer ver? "Sagitário: Você é uma pessoa sorte, que tem muita confiança em si mesmo e que busca a felicidade acima de tudo." Se reconheceu nessa expressão? Lógico, ela é genérica e eu acabei de inventar. Ou seja, acreditar que a sua sorte (outra grande estupidez) é encontrada, vista, prevista em palavras genéricas é sem noção. Não acredito em horóscopos, mas essa é uma característica dos escorpianos, como eu. Balela. Se essa coisa desse certo, o meu viria escrito o seguinte: "Escorpião: sujeito indignado que gosta de bolo de cenoura, mas odeia cebola." "Sorte para amanhã: jogue na megasena: 12- 25-33-35-47-49". Como nunca vi nada assim, não acredito. Mas se você jogar esses números e ganhar, seja honesto e me dê metade.
Terceiro: Coisas sérias exigem seriedade. Coisas que não são sérias, não merecem seriedade. O que eu quero dizer é que pessoas que perdem o tempo com futilidade estão fazendo coisas estúpidas. Ou seja, assistir TV Fama e saber dos babados da vida dos famosos não te deixará mais inteligente, nem ao menos será algo que irá acrescentar algo novo na sua vida ou no mundo. Assim, se você ouvir falar que o Gianechini é gay, ou que o cara do Rebolation fez depilação na nádega esquerda, não abalará a bolsa de valores de Nova York, nem causará uma hecatombe mundial levando ao fim de todas as espécies de ursos pandas chineses. Isso é estupidez.
Quarta: gosto não se discute, se lamenta. Melhor ainda, gosto se discute sim. Não o gosto em si, mas o que leva alguém a gostar de algo. Assim como política se discute sim, e religião se discute sim. Essa última deve ser vista, aliás com respeito, e a fé em si não deve ser discutida, mas e a construção e finalidade e dogmas impostos pela religião? Tudo deve ser debatido, compreendido e estudado. Estupidez é não ter argumento para se discutir. Da mesma forma, ditos populares são expressões máximas da estupidez humana. Como a ideia de que o trabalho dignifica o homem. Pergunta para um boia fria o quão digno ele se sente ao comer seu rango azedo.
Última coisa: vou te contar um segredo. Sério. Quer saber o que fazer para se dar bem na vida sem ter que fazer porcaria nenhuma? Peça e será atendido. Simples. Pense e mentalize e irá ocorrer. Ora, vamos, auto-ajuda só ajuda quem fez o livro, falou o óbvio ou acha que criou algo tão surpreendente que todos agora irão seguir. Todos conhecem o segredo. E o segredo é que não existe segredo. E estupidez é achar o contrário.
Chega. Se você leu até aqui parabéns! Leve esse conselho a sério e irá se dar bem. Se não quiser, acredite no título, pois já afirmo: Ok, sou estúpido...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

melhor que Rá-Tim-Bum



eu queria montar um desses desde rá-tim-bum...

TROPA DE ELITE: A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA!

TROPA DE ELITE:
A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA!

                                        
                                                                         (Ivan Pinheiro)

"Homem de preto.
Qual é sua missão?
É invadir favela
E deixar corpo no chão"
(refrão do BOPE)

Não dá cair no papo furado de que "Tropa de Elite" é "arte pura" ou "obra aberta". Um filme sobre questões sociais não podia ser neutro. Trata-se de uma obra de arte objetivamente ideológica, de caráter fascista, que serve à criminalização e ao extermínio da pobreza. É possível até que os diretores subjetivamente não quisessem este resultado, mas apenas ganhar dinheiro, prestígio e, quem sabe, um Oscar. Vão jurar o resto da vida que não são de direita. Aliás, você conhece alguém no Brasil, ainda mais na área cultural, que se diga dedireita? 

Como acredito mais em conspirações do que no acaso, não descarto a hipótese de o filme ter sido encomendado por setores conservadores. Estou curioso para saber quais foram os mecenas desta caríssima produção, que certamente foi financiada por incentivos fiscais.

         O filme tem objetivos diferentes, para públicos diferentes. Para os proletários das comunidades carentes, o objetivo é botar mais medo ainda na "caveira" (o BOPE, os "homens de preto"). O vazamento escancarado das cópias piratas talvez seja, além de uma estratégia de marketing, parte de uma campanha ideológica. A pirataria é a única maneira de o filme ser visto pelos que não podem pagar os caros ingressos dos cinemas. Aliás, que cinemas? Não existe mais um cinema nos subúrbios, a não ser em shopping, que não é lugarde pobre freqüentar, até porque se sente excluído e discriminado.

No filme, os "caveiras" são invencíveis e imortais. O único que morre é porque "deu mole". Cometeu o erro de ir ao morro à paisana, para levar óculos para um menino pobre, em nome de um colega de tropa que estava identificado na área como policial. Resumo: foi fazer uma boa ação e acabou assassinado pelos bandidos.

Para as classes médias e altas, o objetivo do filme é conquistar mais simpatia para o BOPE, na luta dos "de cima", que moram embaixo, contra os "de baixo", que moram em cima. 

Os "homens de preto" são glamourizados, como abnegados e incorruptíveis. Apesar de bem intencionados e preocupados socialmente, são obrigados a torturar e assassinar a sangue frio, em "nosso nome". Para servir à "nossa sociedade", sacrificam a família, a saúde e os estudos. Nós lhes devemos tudo isso! Portanto, precisam ser impunes. Você já viu algum "caveira" ser processado e julgado por tortura ou assassinato? "Caveira" não tem nome, a não ser no filme. A "Caveira" é uma instituição, impessoal, quase secreta.

         Há várias cenas para justificar a tortura como "um mal necessário". Em ambas, o resultado é positivo para os torturadores, ou seja, os torturados não resistem e "cagüetam" os procurados, que são pegos e mortos, com requintes de crueldade. Fica outra mensagem: sem aquelas torturas, o resultado era impossível.

Tudo é feito para nos sentirmos numa verdadeira guerra, do bem contra o mal. É impossível não nos remetermos ao Iraque ou à Palestina: na guerra, quase tudo é permitido. À certa altura, afirma o narrador, orgulhoso : "nem no exército de Israel há soldados iguais aos do BOPE".

Para quem mora no Rio, é ridículo levar a sério as cenas em que os "rangers" sobem os morros, saindo do nada, se esgueirando pelas encostas e ruelas,  sem que sejam percebidos pelos olheiros e fogueteiros das gangues do varejo de drogas! Esta manipulação cumpre o papel de torná-los ainda mais invencíveis e, ao mesmo tempo, de esconder o estigmatizado "Caveirão", dentro do qual, na vida real, eles sobem o morro, blindados. O "Caveirão", a maior marca do BOPE, não aparece no filme: os heróis não podem parecer covardes!

O filme procura desqualificar a polêmica ideológica com a esquerda, que responsabiliza as injustiças sociais como causa principal da violência e marginalidade. Para ridicularizar a defesa dos direitos humanos e escamotear a denúncia do capitalismo, os antagonistas da truculência policial são estudantes da PUC, "despojados de boutique", que se dão a alguns luxos, por não terem ainda chegado à maioridade burguesa.

Os protestos contra a violência retratados no filme são performances no estilo "viva rico", em que a burguesia e a pequena-burguesia vão para a orla pedir paz, como se fosse possível acabar com a violência com velas e roupas brancas, ou seja, como se tratasse de um problema moral ou cultural e não social.

A burguesia passa incólume pelo filme, a não ser pela caricatura de seus filhos que, na Faculdade, fumam um baseado e discutem Foucault. Um personagem chamado "Baiano" (sutil preconceito) é a personificação do tráfico de drogas e de armas, como se não passasse de um desses meninos pobres, apenas mais espertos que os outros, que se fazem "Chefe do Morro" e que não chegam aos trinta anos de idade, simples varejistas de drogas e armas, produtos dos mais rentáveis do capitalismo contemporâneo. Nenhuma menção a como as drogas e armas chegam às comunidades, distribuídas pelos grandes traficantes capitalistas, sempre impunes, longe das balas achadas e perdidas. E ainda responsabilizam os consumidores pela existência do tráfico de drogas, como se o sistema não tivesse nada a ver com isso!

O Estado burguês também passa incólume pelo filme. Nenhuma alusão à ausência do Estado nas comunidades carentes, principal causa do domínio do banditismo. Nenhuma denúncia de que lá falta tudo que sobra nos bairros ricos. No filme, corrupção é um soldado da PM tomar um chope de graça, para dar segurança a um bar. Aliás, o filme arrasa impiedosamente os policiais "não caveiras", generalizando-os como corruptos e covardes, principalmente os que ficam multando nossos carros e tolhendo nossas pequenas transgressões, ao invés desubirem o morro para matar bandido.

         A grande sacada do filme é que o personagem ideológico principal não é o artista principal. Este, branco, é o que mais mata. Ironicamente, chama-se Nascimento. É um tipo patológico, messiânico, sanguinário, que manda um colega matar enquanto fala ao celular com a mulher sobre o nascimento do filho.

Mas para fazer a cabeça de todos os públicos, tanto os "de cima" como os "de baixo", o grande e verdadeiro herói da trama surge no final: Thiago, um jovem negro, pacato, criado numa comunidade pobre, que foi trabalhar na PM para custear seus estudos de Direito, louco para largar aquela vida e ser advogado. Como PM, foi um peixe fora d\'água: incorruptível, respeitava as leis e os cidadãos. Generoso, foi ele quem comprou os óculos para dar para o menino míope. Sua entrada no BOPE não foi por vocação, mas por acaso.

Para ficar claro que não há solução fora da repressão e do extermínio e que não adianta criticar nem fazer passeata, pois "guerra é guerra", nosso novo herói se transforma no mais cruel dos "caveiras" da tropa da elite, a ponto de dar o tiro de misericórdia no varejista "Baiano", depois que este foi torturado, dominado e imobilizado. Para não parecer uma guerra de brancos ricos contra negros pobres, mas do bem contra o mal, o nosso herói é um "caveira" negro, que mata um bandido "baiano", de sua própria classe, num ritual macabro para sinalizar uma possibilidade de "mobilidade social", para usar uma expressão cretina dos entusiastas das "políticas compensatórias".

A fascistização é um fenômeno que vem sendo impulsionado pelo imperialismo em escala mundial. A pretexto da luta contra o terrorismo, criminalizam-se governos, líderes, povos, países, religiões, raças, culturas, ideologias, camadas sociais.

Em qualquer país em que "Tropa de Elite" passar, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, o filme estará contribuindo para que a sociedade se torne mais fascista e mais intolerante com os negros, os imigrantes de países periféricos e delinqüentes de baixa renda.

No Brasil, a mídia burguesa há muito tempo trabalha a idéia de que estamos numa verdadeira guerra, fazendo sutilmente a apologia da repressão. Sentimos isso de perto. Quantas vezes já vimos pessoas nas ruas querendo linchar um ladrão amador, pego roubando alguma coisa de alguém? Quantas vezes ouvimos, até de trabalhadores, que "bandido tem que morrer"?

Se não reagirmos, daqui a pouco a classe média vai para as ruas pedir mais BOPE e menos direitos humanos e, de novo, fazer o jogo da burguesia, que quer exterminar os pobres, que só criam problemas e ainda por cima não contam na sociedade de consumo. Daqui a pouco, as milícias particulares vão se espalhar pelo país, inspiradas nos heróicos "homens de preto", num perigoso processo de privatização da segurança pública e da justiça. Não nos esqueçamos do modelo da "matriz": hoje, os mais sanguinários soldados americanos no Iraque são mercenários recrutados por empresas particulares de segurança, não sujeitos a regulamentos e códigos militares.

Parafraseando Bertolt Brecht, depois vai sobrar para nós, que teimamos em lutar contra o fascismo e a barbárie, sonhando com um mundo justo e fraterno.

A trilha sonora do filme já avisou:

"Tropa de Elite,
Osso duro de roer,
Pega um, pega geral.
Também vai pegar você!"

Pede prá sair...

Ontem fui ao cinema assistir "Tropa de Elite II". E fiquei impressionado. Não tanto pela violência já esperada, mas pela trama bem amarrada e pela excelente atuação de todos os atores envolvidos. Gostei mesmo.

Só tem um problema: filme brasileiro tende a mostrar traços da realidade. E esse é mais um. Problemas sociais. Corrupção. Estado ineficiente. Polícia incompetente. Milícias, traficantes e coisas do tipo. Mas como no primeiro filme, o que mais me chocou foi o que já havia me chocado no primeiro filme: a barbárie. E como as pessoas gostam disso. Aliás, esse filme já havia provocado uma gigante discussão a respeito da indústria cultural e da forma e desigualdade na distribuição cinematográfica. Aliás eu poderia ter baixado filme e assistido no conforto do meu lar, comendo pipoca de micro-ondas. Mas eu tinha que ir ao cinema e ver a reação do público. E eu vi. fiquei do lado de um cara que vibrava a cada tiro, soco ou xingamento desferido pelo Nascimento. Ou seja, bandido bom é bandido morto, isso é o que o rapaz pensava.

Engraçado que justamente o que mais foi discutido no primeiro filme, do seu lado de fora, foi levado até as telas, ou seja a questão dos direitos humanos e o porquê da violência do filme. O fato de ser um tanto fascista. Classista. Isso ele ainda é. A população passa incólume. Não tem voz, não tem vez. É mera espectadora passiva.

Como se não houvesse saída possível, ela ainda aceita de cabeça baixa a pretensa ação da suposta milícia. Mas e o Estado, onde estava? Todo mundo é tão facilmente corruptível assim? Tão passivo, tão imoral, alheio a tudo e a todos?

Outro ponto interessante é a questão da política. engraçado é o filme ser lançado só após as eleições. Não o fosse, será que o Sr. Wagner Montes seria eleito deputado?

Quando foi lançado o primeiro filme, recebi um e-mail de um amigo com um texto sobre o primeiro filme. vou colocar aqui para que vocês possam ter uma ideia do que há por trás de algo tranquilo como um filme de ação. E porque filme brasileiro tem que falar de problemas sociais. É que aqui não precisamos inventar motivos para violência, criminalidade. O terrorismo está nas ruas, está no Estado. É aí que eu lembro de uma frase do Marcelo D2 sobre a função da polícia: servir e proteger, servir a quem? Proteger de que?


E aí, você é fã do agora Tenente Coronel Nascimento? Berra aí, berra!!
Mas se você me der um desses, vou achar muito legal!!

sábado, 30 de outubro de 2010

Pinóquio pós-moderno

Tem uma fase em algum lugar na bíblia que diz o seguinte: "conheça a verdade e ela te libertará". Acho que de tudo que escrito lá, nenhum é tão verdadeiro.
A busca da verdade leva ao conhecimento. Quem não se conforma com a mentira, com a inverdade, com os mitos, busca a verdade.
Isso é a base da filosofia, das ciências como um todo. Uma crença baseada em fatos não questionáveis é um dogma. Se você crê em algo que cuja possibilidade de teste é um fato que não tem como ser questionado, ou falseado (lembro sempre o Alessandro com seu invisível e intangível dragão, que mora na garagem). Porém, sempre que falamos em dogmas nos vem a mente o dogma master que é Deus.
Na verdade não há como conhecermos Deus, nem saber de sua existência ou inexistência. qualquer crença deverá então ser dogmática. Ponto final.
Porém, há uma série de mitos presentes em nosso cotidiano, mitos que nos circulam, que ouvimos todos os dias, mitos a cerca de homens, de situações e feitos.
Normal para muita gente são os mitos narrados na Ilíada e Odisséia. Ou no mito criador de Adão e Eva. Mas e os mitos modernos, aqueles que são criados todos os dias? Milhões de alemães passaram a acreditar que eram uma raça superior, mito esse criado nos nossos tempos. Outro mito era o de que uma pessoa sem instrução, não poderia conduzir uma nação.
Mitos são criados. E sabe o que faz com que os mitos se perpetuem?  A falta de investigação. Recebo todos os dias muitos e-mails com lendas e histórias. E as pessoas repassam sem questionar. Atribuem textos a pessoas que nunca os escreveram.
 Por mais que uma história pareça verídica, ela não pode ser. sendo assim, questionamentos como: quem? quando? onde? por que? como? podem ajudar a desmentir ou elucidar uma situação. A internet hoje abre a vida de todos os indivíduos para que eles possam ser encontrados, suas vidas possam ser escarafunchadas. Questione. Pergunte.
É lógico que mentir é diferente de omitir. Quem omite, também não fala a verdade, mas também não se embanana na mentira deslavada. A omissão pode e deve ser levada em conta. desde que essa omissão não destrua ou mude completamente o rumo da história. No mundo da ciência é ela quem dá o caráter de idoneidade à minha pesquisa. Se eu omitir algo que possa desfavorecer a minha tese, terei problemas.
Como Descartes, não podemos crer tão somente nos sentidos; como Locke e F. Bacon, são necessárias provas empíricas; como Kant é necessário por a razão na balança e saber até que ponto ela pode conhecer.
Algo convincente pode parecer verdade. Algo que parece mentiroso pode ser verdade.
Assim, podemos e devemos questionar tudo. Pois afinal, como Descartes nos propõem, e isso ainda é válido: "penso, logo existo".

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Eleições 2010



Como analisar esse pleito eleitoral? De qual forma devemos ver o espetáculo da democracia
no país das maravilhas puniquim?


Todo mundo já cansou de me ouvir dizer que a democracia estabelece dois elementos vistos
aos pares: primeiro é que nela todo mundo pode votar, e por conseqüência, qualquer um pode
votar. Em segundo temos o fato de que todo mundo pode se eleger, ou seja, qualquer um
pode se eleger.


Quais as implicações disso? Aberrações.


Figura anedótica, Tiririca foi eleito, com mais de 1 milhão e 300 mil votos. Mas o que
representa a eleição do Tiririca? Representa o sonho de qualquer nordestino que vem para
o estado de São Paulo: reconhecimento. Quem são e por que todas essas pessoas votaram
no Tiririca? Sinto informar mas, não foram as camadas mais esclarecidas da população. Ou
seja, temos pessoas que não sabem da importância de um legislador para um país. Não
sabem que esse é o cara que faz as leis, sanciona as leis e deve questionar o executivo em
caso de desmandos. Representa o país. Quando um sujeito vota em alguém que tem como
bordão “vote no abestado” eu digo que não dou a mínima para quem entra. Mas agora, uma
coisa é fato. O Tiririca, suponho eu, recebeu votos de uma grande quantidade de conterrâneos
seus que fazem e constroem o Estado de São Paulo. Sem ironias. É essa gente, marginalizada,
sem direitos, que sofre preconceitos e que carrega com a força bruta esse estado nas costas.
Quem ergue os prédios da grande São Paulo? Nordestinos, que hoje são paulistas que somos
nós. Foi um voto de protesto? Não. Foi um voto em alguém com carisma e que representa o
que todos querem, como já foi dito, reconhecimento.
Terá a capacidade de fazer política e ser político? Não sei. Potencialmente sim.


Mas agora vamos esperar o segundo turno e ver o futuro do nosso país da piada pronta em que agora o palhaço ri de nós, não dos que votaram nele, mas de nós que falamos mal do sujeito.

Macarronada e sangue: faz parte do cotidiano.

Outro dia resolvi comer uma macarronada parecida com a que a minha avó fazia: molho bem vermelho, com muito queijo ralado por cima!! Coloquei um guardanapo na gola da camisa para não sujar a roupa. Sentei no sofá e comecei a mudar de canal. Esportes, notícias, documentários, filmes e seriados. Quem tem TV a cabo ou via satélite não pode reclamar da falta de variedade, talvez da falta de qualidade. No canal de notícias, cenas de crianças famintas na África. Chuvas torrenciais em outra parte do mundo. Chacina em São Paulo. Saldo de mortos nas estradas. E eu comendo minha macarronada com molho vermelho.
Mudei de canal. Filmes. Uma garota encrencada, chorava desesperadamente. Até que o assassino a encurrala e esmaga sua cabeça com uma marreta. Sangue. E eu com a minha macarronada.
MTV, chega de ação, música, please. Um clipe de uns rappers cantando algo indecifrável, empunhando revólveres e fazendo cara de mau. Chega! Desenho: Ben 10 se transformando em monstros estranhos e detonando os adversários. Na verdade, não sei quem é quem. A macarronada já havia acabado e o que restava no prato era a mancha vermelha deixada pelo sangue que escorreu da TV. Minto, era só o molho vermelho.
Mas confesso que a macarronada estava boa.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Pastores e seu rebanho...

Bem aventurados os que aqui estão, pois é sinal que esse blog vale de alguma coisa!!!


Eu sempre volto de São José escutando uma rádio evangélica. Só que meu interesse é o mesmo daquele cara que assiste o programa do Datena: ver alguém explorar a miséria humana. Vou contar para vocês uma dessas histórias que ouvi. A mulher liga para a pastora e diz:
"-Pastora, eu estou com um problema.
-Espero que você tenha ligado porque precisa de um milagre em sua vida; você precisa de um milagre?
-Preciso pastora, meu marido me deixou... quero que a senhora reze para ele voltar para mim!!
-A senhora tem sido uma dizimista em dia com as suas obrigações? Tem ido a igreja?
-Tenho sim, senhora!!!
-Então eu vou rezar para você!!"
A pastora começa a rezar algo preparado, sem emoção... e a conversa continua:
"-Pastora, continua rezando para mim durante a semana?!
-Minha filha seu milagre já foi realizado!!!
-Mas reza por mim, pro meu marido voltar!!
-O milagre já foi realizado!!! Próxima ouvinte?"

Eu sei porque o marido dela a deixou. Você sabe? Não? Nem desconfia?

Outra hora falo mais sobre a exploração da miséria humana... Até lá adeus... 
Deixe aí o seu comentário, infiel!!!

Olha só o pastor metralhadora!!



Coisas rápidas que me passaram pela cabeça...

Em quem votar nessa eleição? Não quero o Serra, não quero a Dilma, não quero ninguém... conclusão, tomemos o poder!!!

Outra coisa: Por que as coisas mais legais da vida tem que se intercalar com as coisas mais chatas e entediantes?

Quando poderei dizer "enfim, realmente, não tenho mais nada a fazer, nenhuma obrigação a cumprir, nenhum livro para ler?" eu sei a resposta, e é nunca!!!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

As Regras do Acasalamento entre humanos


Quando era pequeno, criança, sei lá, tinha uns oito ou nove anos, gostava de assistir um programa na TV Cultura entitulado Os Bichos. Me lembro de alguns episódios, como o dos ursos, dos lobos, dos gaviões, das doninhas. Contava como os animais cercavam as presas, como armavam estratégias de ataque, como funcionavam seus órgãos digestórios e coisas do tipo. Além disso, contava como funcionava seu acasalamento e o que possuiam e faziam para atrair o ser do sexo oposto.
Minha paixão pelos bichos foi tanta que a primeira vez que prestei vestibular, a opção foi certeira: vou fazer biologia!! Mas, não passei e por influência de alguns professores do cursinho, mudei de área e fui para as humanas... Mas observar os animais ainda me é fascinante.
E para observar esses bichos em ação, um local muito apropriado é a balada!!! Lá você verá a marcação de território, verá a marcação de posições e disputas de poder. Verá também funcionando regras de atração e de acasalamento.
Consigo até ouvir a voz do locutor: América do Sul, Setentrional, local de morada de seres muito interessantes: Adolescentes!!! Em um ritual de acasalamento podemos vê-los movimentando os quadris, movimentando os braços, olhando para os lados... quando encontra o alvo de desejo, lança olhares, molha os lábios, mostra os dentes, fitando profundamente o seu alvo. Quando sabe que recebeu um sinal, imperceptível para alguém que não conhece as regras dese jogo, vai ao ataque. Encara a vítima, e vai até a orelha onde balbucia sons, mordendo as palavras e sussurrando coisas sem sentido, cuja importância é nula enquanto informação e cuja ressonância é evidente. Sinais que indicam que a boca pode sair de perto da orelha e ir para junto da boca. As mãos se entrelaçam, escorregam pelas costas indo até as pernas, subindo até o toráx e novamente descendo.
Consigo até escutar esse locutor dizer que esses seres são tão fascinantes que em alguns momentos são fiéis e monogâmicos, chegando a brigar por atributos que eles chamam de honra. Em outros são totalmente poligâmicos, não se importando em ver a recém-antig@ parceir@ nos braços d@ outr@...
Ainda bem que não fiz biologia. Senão jamais conseguiria entender essas sutilezas que nos fazem ser seres tão fascinantes!!!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Verbos que me lembram o dia em que nasci...

Abrir
fechar
sorrir
mentir

Ador mais angustiante é a de quem perdeu o dedo limpando os ouvidos para escutar coisas que não queria...
Beijar
abraçar
sentir

O melhor sorriso é o da boca desdentada que agradece pelo naco de comida...

Morrer
viver
nascer


A maior solidão é de estar entre gentes e não saber o que dizer, prá quem olhar e como fugir.

Matar
Suicidar
felicitar

Queria apenas saber onde fica o botão delete em minhas lembranças aflitas a procura de uma saída.

comer
beber
vomitar

Nada se compara a um arroto de Coca-Cola após ter comido um porco, um boi, todos cremados e cheirando a podridão disfarçada.

Criar
Destruir
Imaginar

vamos irmão, vamos a luta, que a paz só existe em oposição a guerra e eu quero isso tudo tanto quanto você, mesmo sem saber que as coisas poderiam ir bem, mas não vão!!!

Minha primeira balada!!!

Me lembro como se fosse ontem da minha primeira balada... eu tinha sei lá, uns 13 anos e hormônios saindo para todos os lados do meu corpo. Na verdade não foi bem uma balada, mas um show. Paralamas do Sucesso. Naquela época o Herbert Vianna ainda não usava cadeiras de roda e tocava sua guitarra nas costas. Hora ele fazia poses de quem surfava...
Fui com o Pablo e a Tati. Eu e ele nutríamos uma paixão secreta por ela, sabe essas coisas de adolescente? Não rolou nada, porque viramos amigos e quando você se torna amigo, aí, ferrou.
Acho que depois daquele show, o Pablo decidiu que iria se tornar guitarrista. E de fato conseguiu. Esmerilhava a sua Fender ao máximo!!!
O show foi muito massa, pulamos prá caramba... os caras estavam no pico da carreira.
Lembro do momento em que o Barone jogou a baqueta que passou pertinho da minha mão. Uns caras se estapearam prá pegar.
O mais legal, no entanto, de uma festa, de sair é justamente o antes e o depois. Pois no antes tem toda aquela adrenalina, a expectativa. E no depois tem a mesa redonda, comentando os melhores momentos.
Lembro de uma amiga do Pablo, a Batata, ruivinha que nunca deu moral prá mim. Aliás, acho que até deu, mas devo ter sido lerdo para acompanhar. Ela chegou dizendo que havia entrado no camarim dos caras, pegou autógrafos e coisas assim.
Já a Tati era apaixonada pelo Herbert Vianna. Depois, namorou com o meu primo e eu com uma prima dela.
É claro que já fui em muitos outros shows, já armei shows, conheci bandas, assisti shows de cima do palco, já fui em outras baladas, armei baladas, e assisti muitos shows, inclusive dos Paralamas.
Outro dia fui a um barzinho ver uma banda de surf music tocar. E sempre que vou a esses lugares, fico procurando a sensação daquele primeiro show.
Agora eu entendo essa necessidade de sair, de ir para a balada e fazer as coisas mais loucas nessas baladas. São várias coisas, todas ao mesmo tempo. É o querer ficar junto com a turma, ser notado, marcar presença, marcar território, conhecer pessoas, todas essas coisas.
Mas no fundo mesmo, só queremos uma coisa: é a primeira sensação que queremos de volta, daquele primeiro show, do primeiro beijo, da primeira balada. Momentos são únicos e instantâneos. Relaxe, essa sensação nunca se repetirá, será sempre diferente e sempre verdadeira.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Time is money!!

Acordei pensando em coisas que tinha para fazer. E eram muitas. Mas as coisas se auto empurravam para debaixo do tapete e me diziam o seguinte: " Hey, relaxe, você só tem uma vida, não vale a pena perdê-la, desperdiçá-la." Então me voltei a questão básica que move todos nós: por que nos sentimos culpados quando estamos perdendo tempo. Tipo por que me sinto tão culpado ao não fazer algo útiil?
Sei que isto parece moral protestante, envolvendo a grande questão que é a de que o trabalho dignifica o homem. mas de onde vem essa culpa? 
A ideia é a de que devemos ser ocupados, parecer ocupados e sempre ter algo a fazer. Essa é a ética do sistema capitalista. Time is money baby!! O que implica em que estou jogando dinheiro fora agora. Poderia e deveria estar dormindo, para repor as minhas forças e voltar a trabalhar após o feriado. Mas não. Aqui estou a trabalhar ideias e pô-las em um local em que poucos irão ler. 
O tempo é meu e eu desperdiço com que eu quero!!! 
Fui.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Vote em mim!!!


As eleições estão chegando e a cada dia que passa fico mais impaciente com o que virá e, principalmente, quem virá. Mas parece que essa é uma eleição diferente. Já não temos aquele arsenal de políticos clássicos tentando nos convencer. Parece que estamos convencidos de que eles são "os caras" e que devemos de uma forma ou de outra ajudá-los a governar o país. Mas iso é um erro. E prova disso são os figuras que estão tentando se eleger. Tiririca, Batoré, Romário, Mulher Pêra... Todos esses figuras querendo ajudar o país. Todos eles, espíritos autruistas que vêem na política um meio de resolver os nossos problemas... ou os deles...
Mas a política realmente é troço que mexe com o espírito, seja por bem ou por mal. Não dá para ficar indiferente aos apelos dos nosso políticos e dos meios de comunicação. Não podemos negar que enoja saber que um político roubou, desviou dinheiro, sonegou impostos, mandou matar um inimigo e coisas do gênero. Mas esquecemos que quem está no poder foi alguém colocado pelo voto popular. E se eu acredito que esse troço é sério? Claro!!! De que outra forma poderíamos eleger um Clodovil Hernandes? Apesar de falecer antes de terminar o mandato, sua figura me cheira (ou fede) a voto de protesto. Você pode votar no Tiririca, não tem problema. Mas sabe que ele não vai fazer nada, né? Pode votar na Mulher Pêra, na Mulher Melão (candidatas boas ou boas candidatas?) Mas sabe que literalmente só enfeitarão os locais por onde irão passar.
Não escolher é uma escolha? Sim. Mas sei lá, né, talvez signifique deixar que um figura desses entre para a política e não faça nada. Não porque não quer, mas porque não irão deixar.
Assim: qual é o passado de militância do Tiririca? Ele conhece os "jogos do poder" ou só o "banco imobiliário" (foi assim que ele aprendeu economia doméstica.
Política vai além de ser pau mandado ou super trunfo. Fazer política é algo cotidiano, feito através do debate, reflexão e é claro evitando o autoritarismo ou o poder da autoridade.
Mas beleza, tudo certo.
E se não tem ninguém para votar, vote em mim!!!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Poesia, só para variar....

Queria postar alguma coisa, mas como estou meio sem tempo vou brincar de poesia...

O homem do futuro

Sonhos futuros...


O homem do futuro
que cruza mares pisando em ovos podres
se preocupa com o meio ambiente

O homem do presente
que de tanto pensar no futuro
ficou com um buraco no meio do peito:
a solidão incomodava demais, então arrancou seu coração.

O homem do passado
assusta o homem do presente,
ensina o homem do futuro
brincando de Lego com peças que não se encaixam
sentimentos inválidos
dores e alegrias.

O homem do futuro
come a caca do homem do presente
que ganhou de presente um monte de valores irreais
deixado a sombra pelo homem do passado
que só pensa em besteiras e sorri um riso de quem pensa que só perdeu tempo até agora...

A fé se espatifou contra o muro
A esperança presa em uma caixa
Fica esperando
magoada que o futuro do home do futuro chegue e a liberte das trevas e sombras.

Enquanto isso na Mongólia interior de cada um de nós
aquele palhaço que nos dá tanto medo
chora
triste
pois
não sabe seu fim.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Amores não newtonianos

Olha só o teu coração...


Quando adolescente, era o cara mais bundão da escola... jogava mal futebol ou qualquer outro esporte que envolvesse bola. Era ruim no vídeo-game, damas, xadrez (perdia de todo mundo, apesar da minha jogada secreta infalível que sempre falhava). Mas agora, depois de crescido, depois de adulto, muitas das coisas que achava importante, de fato não eram... Falava mais do que devia, ouvia mais do que merecia...
Hoje, vendo o que meus alunos fazem, como eles pensam, vejo que as coisas não mudaram. Eu sempre fui um sujeito romântico... de escrever poemas e cartas de amor... puro lixo, para ser sincero.
Precisei ler Bukowski para entender as mulheres. E ver que não são tão inatingíveis quanto parecem... E olha que ele era só um velho bêbado!!!
Só que li esse cara tarde demais. Até então meu padrão de amor e comportamento amoroso era o dos nossos românticos.... tão séc. XIX... Acho que por isso mesmo não pegava nada... Aliás, pegava quando baixava em mim o Bukowski que eu ainda não conhecia. Que coisa feia, falar em "pegar"!!! É um objeto, uma coisa? Claro que não... Mas por que tratamos as nossas relações assim?
Em uma época de rapidez, conhecer o outro é saber o nome, o msn, ter o orkut. Só, é o que basta. Mas o legal é a coisa se tornou mais simples. A amada deixou de ser aquele ser inatingível... E o homem deixou de ser aquele saco sem emoções, pois as emoções mesmo não contam... Isso é triste? me diga você!!!
Na verdade só sou casado por causa do Nietzsche. Ele dizia que o segredo para um casamento duradouro é o de você olhar para a pessoa que está ao seu lado e pensar se daqui a 50 anos ainda terá vontade de conversar com ela!!! Eu achei essa pessoa, mas quem se importa com isso, nesse mundo rápido, sem paixão?
O amor é liquido, as relações são líquidas... Aliás, parecem fluidos não newtonianos... Parecem sólidos, mas escorrem pelas mãos...




A distância hoje em ser o cara mais descolado e ser o mais idiota é mais tênue que uma teia de aranha. Sabe quando gruda uma em sua cara? Aí está, ou o bobão, ou o esperto... o malandro e o ingênuo...
Eu sei o que é isso, pois já fui o bobão que apanhava na escola, já fui o descolado que usava roupas que ninguém teria coragem de usar só para ser diferente... hoje percebo que a vida inteira tentei ser apenas eu, o que consegui agora... eu acho.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Isso não é a Galileu...

Já que o mundo está doido e todos estão vivendo para que o mesmo acaba em 2012, resolvi que quero falar da natureza humana... o que é ser humano? meu, eu sempre digo a vocês que somos tão séc. XIX e ninguém acredita, mas é verdade... Abra uma revista qualquer e você achará explicações biológicas para o comportamento que achávamos até então cultural ou social.



Certa vez eu vi um cara e mudei de calçada pois senti medo. Retuite essa droga se você já fez isso (quanto espaço virtual destruído com essa bobbagem...). Todos já fizemos isso... pois somos humanos e em nossa definição está a capacidade de julgar... e quando você julga alguém leva em consideração uma série de fatores culturais, relacionados com ideologias, com o que você aprendeu na escola, em casa, na TV.  Aliás, isso se chama medo, algo comum a todos os animais e humanos e super-heróis (exceto o Batman). Só que tem uma coisa. Existem pessoas que tem tanto medo que não sai de casa. E quando saí, muda de calçada o tempo todo... tem alguma-coisa-fobia... medo. Por que? Vamos dizer que essa pessoa sofreu traumas sérios. Ótima razão para ter medo. Ou então que ficou tão apavorada com o Jornal Nacional e o programa do Datena que agora sente medo da própria sombra. justificável. Mas todos vocês irão concordar que essa moça possuí um déficit de endorfina e por isso tem medo...Áh, moleque que explicação perfeita!!! por que? é a mais idiota!!! a menos lógica e mais irracional. O que é endorfina? Eu inventei isso, mas poderia estar escrito na Galileu ou na Superinteressante... Mas beleza...

Não creio que um vampiro que brilhe no escuro seja padrão de beleza, mas... 

Certa vez me apaixonei por uma garota e ela não me deu bola (retuite já aconteceu isso com você!!!) Por que ela não me deu bola? Vamos as alternativas:
a) padrões de beleza presentes em artistas de novela, vampiros frescos e cantores coloridos na faziam parte da minha aparência.
b) ela não sentiu meu cheiro de macho, que exalo para atrair as fêmeas (pode chamar de feromônios).
c) possui alto padrão de expectativas em relação a segurança financeira e sabendo quem sou, sabe que não poderei atender...
d) percebeu uma incompatibilidade genética entre nós que poderiam levar a descendentes fracos e sem chances no mundo...
e) não gostou da cantada: "não sabia que boneca andava..."

Se você assinalou as alternativas B ou C parabéns, você é tão séc. XIX que o darwin lhe daria um beijo na boca...
Se você assinalou as outras parabéns!! Caiu na real e não vai comprar perfumes com feromônios pois sabe que se o xaveco é bom não há quem resista, a menos que você seja muito estranho mesmo... mas mesmo isso é discutível, pois quem disse que é estranho um vampiro purpurinado, ou um cara com calça do Tiririca?

É isso aí... voltei... só que na versão andróide irritante...

Responsabilidade: o coisa #%$&*¨%#

Por muito tempo ela me chamou... não queria ouvir... Então ela começou a gritar e berrar e clamar... eu sabia o que era, mas não queria acreditar... O que eu poderia fazer, para que lhe dar ouvidos? estou falando da responsabilidade. Nossa, parece até a minha ou meu pai falando, e eu sei que eles falavam a respeito disso... mas aqui, não quero dar lições de moral, pois eu mesmo não assumo a responsabilidade que talvez devesse assumir.
O que eu digo é que em determinados momentos, não podemos contar apenas com a sorte e deixar que as coisas aconteçam ao acaso.. Você tem que fazer o seu papel, cumprir com a sua parte e responsabilidade é algo essencial para o qual somos chamados e é claro, devemos nos portar da melhor forma possível...
A nossa sociedade é feita de papéis. Alguns são importantes, outros nem tanto. Representamos todos os dias e todos os dias alguém espera que você cumpra o seu papel. Não posso ser médico se sou professor e se eu precisar de um médico espero que ele me atenda, assim como se um aluno tiver uma dúvida que possa esclarecê-la. Só que os papéis aí estão bem delimitados. Agora eu fico bem chateado mesmo quando as pessoas que deveriam cumprir seus papéis não cumprem. E jogam a culpa em você pois não sabem agir de outra forma. É mais fácil culpar o outro. Muito mais fácil... Mais fácil até que redefinir esse papéis em que cada qual possui a sua responsabilidade e parcela de culpa em caso de erro.
Sabe de uma coisa? quem sou eu para falar de responsabilidade? sou responsável pelos meus atos? Cumpro o meu papel? Assumo a culpa pelos meus erros? Não confundo os papéis que deveria exercer e que não exerço?
Sabe de uma coisa? Sou humano e como humano quero ser isento de culpa para poder encostar a cabeça no travesseiro e dormir...
Boa noite!!!

terça-feira, 6 de julho de 2010

O Dunga me ensinou andar de skate... ai.




A juventude é uma droga. E é a única solução e saída e esperança e essas coisas que projetamos em alguém devido ao nosso próprio fracasso. Ontem vi o Sr. Ricardo Teixeira (presidente da CBF) dizer que estará formando desde já uma seleção para jogar em 2014. E que esta deve ser de novatos, pessoas jovens, tendo hoje entre 18 e 21 anos...

Bem a seleção do Dunga era bastante experiente e não ganhou nada. O Dunga poderia ter chamado os "Meninos da Vila" para jogar. Não chamou. O Brasil foi eliminado. Mas o Dunga tem razão: esses jovens são uma droga... só querem sair de balada, não tem compromisso com nada, são arrogantes, mesquinhos... Até aí, beleza. Mas como eu disse poderiam ser a esperança. Sei lá. Todos sabemos do potencial da juventude: potencialmente consumistas, baladeiros, encrenqueiros... "quero tudo junto agora mesmo e já!!" esse é o lema dos caras. Malditos imediatistas que não querem lutar, suar a camisa para terem o que querem... Riem de tudo, são descompromissados. Ou então reclamam de tudo e cortam os pulsos. São impacientes. Caem e levantam. Amam e não deixam transparecer. Ou deixam transparecer sem amar.

O Dunga sente inveja dessa juventude. Por isso levou o Kaká: o menino que ofende a Deus quando fala "Puta que o pariu!!". Um bando de velhotes em meias de lã... Pior do que você ser velho é pensar como velho. E tem um bando de jovem que pensa como velho. Tem medo da mudança. Tem medo de ter medo. Não arrisca e nem petisca.

Qual é o meu ideal de juventude? Ser aberta para o novo, sem medo, revolucionária, rebelde. Ela é um tanto assim. Mas porque a crítica? Eu sou invejoso. Fui andar de skate e machuquei uma parte da perna sem cair... Estirei um músculo, sei lá...

Mas o que eu odeio nela? O fato de que ela age como se não houvesse amanhã... e aí se estraga e pode estragar o mundo... Quando ela age da maneira mais tosca que se pode agir. É assim: você pode agir da maneira A ou B. A é a mais tosca e B a mais coerente. Um jovem vai escolher a mais tosca, porque é a mais legal, porém a que trará mais prejuízos no futuro.

E isso eu admiro nos jovens, a capacidade de fazer cagadas sem pensar que isso pode dar merda. Vejam os casos do goleiro Bruno do Flamengo que arranjou um adolescente para matar a ex-namorada (se é que essa história é verdadeira). ou dos moleques de Floripa que estupraram uma adolescente de 13 anos. Que ideias brilhantes... Sabe o que é a síntese dessa molecada? Esses toscos aí.



O pior é que tem gente que acha bacana, bonito. ou que comenta: o cara é pobre, é preto, é favelado. Meu, isso não tem nada a ver, tem gente fazendo escrotisse em todas as classes sociais e com todas as cores... quer dizer, até que tem: se você está nessa situação pois seu acesso a cultura e educação é restrito. Aí, pronto, você acha bacana essas coisas toscas... Mas beleza, sou só um invejoso. Eu e o Dunga, invejosos.

Waka waka para todo mundo!!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

"Peidei... mas não fui eu..."



Existem naturezas problemáticas que nunca estão à altura das situações em que se encontram e que nenhuma situação satisfaz. Disso nasce o enorme conflito que consome a vida sem prazer
Fonte: "Máximas e Reflexões"
Autor: Goethe , Johann




O conflito é inevitável. Parece ser parte da natureza humana. Gostamos de viver em tensão constante. De viver no limite entre o stress e o mal humor, ou entre a indiferença e a despreocupação, que podem gerar mais stress e mais tensão...
Viver com outros humanos é complicado. por isso, muita gente prefere a amizade de um animal, um cachorro. Aliás, eu tenho uma cadelinha. E muitas vezes prefiro a presença dela do que de outro humano. Só que isso é perigoso. Evitamos o conflito, mas não aprendemos a lidar com ele. Então fugimos e nos refugiamos em algo que nos traga conforto: colocar a culpa no outro, esquecendo é claro, que isso só pode gerar mais conflito. Ou então nos trancamos em quartos escuros e pedimos colo para alguém que nos entenda.





O fato é que conflitos fazem parte do nosso processo de socilaização. conviver e resolver esses conflitos é a única maneira de saná-los. Vou confessar que eu me sinto desconfortável com brigas, ou picuinhas, ou fofocas, acusações. Quando eu morava lá em Araraquara, na saudosa república Casa de Orates, muitas vezes vivíamos em pé de guerra, pelos mais diversos motivos. Alguns fugiam do debate, outros, o motivavam. Muitas vezes convoquei assembleias para discutir o que faríamos com a louça suja que já estava ali a mais de três dias e ninguém queria lavar. E lavávamos a roupa suja para encontrarmos a solução para a louça suja.

A melhor parte era que emergiam problemas desconhecidos, mágoas antigas, ou segredos que seriam revelados. Muitas vezes era um porre, mas era importante. Aliás, acabávamos de porre, o que não vem ao caso.
O único problema é que a lógica do "não fui eu" por vezes é demasiadamente egoísta e esconde o fato de você não se importar, não querer ajudar e em nada contribuir para a solução de uma situação conflitante.
Mas qualquer coisa, põe a culpa em mim, deixa que eu assumo... Afinal, somos tão egoístas que nem a culpa queremos dividir...


Para ouvir (enquanto pensa em quem culpar): Weezer, The Killers, Strokes, Artic Monkeys, Beck, kayser Chiefs e Pixies... (Trilha sonora para escrever este post)


E waka waka para os de perto e para os de longe, sei lá, tipo Suécia... Boas férias, e cuidado com o Kaká pois ele é um bad boy....

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Como partir um coração em 5 minutos


Hoje lembrei da final da Copa de 1998. Ali o Brasil perdia e eu conhecia uma das minhas primeiras namoradas. Era linda. Loira, olhos claros, branquinha. Assim, a beijei e a toquei suavemente e dignamente como deveria ser. Mas como não era para ser, não foi.
Tranquilo. Mas de 4 em 4 anos lembro dela, daquela noite. Ali também conheceria outra garota especial e importante na minha vida.
As copas do mundo mudaram a minha vida. Na copa de 2002, conheci a minha esposa. Como a Copa era no Japão e Coreia, os jogos eram de madrugada e ela dormiu em meu colo enquanto eu via a seleção ganhar o jogo, sei por quanto, o que menos importava era o resultado.
Enfim, aprendi a ganhar algumas mulheres. Mas perdi algumas também, por ingenuidade, besteira, vulgaridade.
1. Nunca conte para ninguém que você ficou com uma garota mais velha. Teus amigos vão zoar contigo e queimar o teu filme. E você vai perder a garota.
2. Nunca conte sua intimidade sexual. Isso pode ser fatal. As imagens que farão de você vai destruir algo que poderia ser muito legal.
3. Não dê ouvidos a conselhos bobos de gente boba. Principalmente se o cara acha que pega todas ou não pega ninguém. São escrotos que só querem acabar com a tua alegria.
4. Ouça a voz do coração. Esse papo de que você tem no peito uma máquina de calcular não pega. Se está apaixonado, apenas continue assim, fale com a garota, viva esse momento sem se importar em parecer meio emo.
5. Curta a fossa quando ela acontecer. A ideia de substituir a amada por outra garota é escrota e você pode se dar muito mal... Mal mesmo... tipo você vai se sentir mais escroto que os arque-rivais de personagens de histórias em quadrinhos... Tipo um coringa sacaneando o Batman...
6. Um rostinho bonito pode esconder um alma estragada. Cuidado! Você pode se enfiar em encrencas.

Mas o título é como partir um coração. E esse coração é o seu. Quem se importa com os sentimentos alheios? Você. Portanto não seja escroto (palavra do dia) e faça o que estiver ao seu alcance para ser feliz e fazer o outro ou a outra feliz. Isso serve também para as garotas. Muito desejo pode significar apenas uma paixão que se esvai após um beijo de novela e a descoberta que o amado tinha um bafo daqueles; Ou que o idiota iria sair contando para todo mundo que ficou contigo e que você era fácil...
Sei lá, puta escortice esse post... Mas acho que cervejas e recordação só podem dar em amargura e decepção, ultrapassadas apenas pela vida e experiência...
Não corte os pulsos. Lave o rosto, vista uma roupa legal e vá a luta. Qualquer escroto consegue alguém legal para ser feliz. Inclusive eu.

Waka waka para todo mundo...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Na inutilidade da utilidade



Prá que fazer isso? Por que fazer aquilo? Prá que serve isso? Qual é a utilidade daquilo?
por vezes nos questionamos a respeito da utilidade das coisas. conversa inútil, claro, como esse blog besta(se tem algo mais útil a fazer, pare de ler, vá e faça!). Agora, por que as coisas tem que ser uteis, ou tem que servir para algo? para que serve a arte? Para nada. Ainda bem. Aliás, para muitos intelectuais, principalmente os marxistas a arte deveria servir como expressão libertadora e que demonstrasse os conflitos de classe - a arte deveria ser engajada e não alienada. Porém ainda assim, seria apenas arte, demonstraria a expressão de sentimentos, sei lá, viscerais do artista em seu descontentamento de mundo. É claro que essa é uma visão por demais simplista da coisa, mas dá para entender.
Por que as pessoas precisam ouvir música? Por que existe o futebol (lembram da ideia de pão e circo?), por que as coisas tem que ter utilidade. daí, mais uma grande frase que me vem a cabeça: quanto mais inútil a coisa, mais legal, quanto mais legal, mais importante na nossa vida. Quer ver só?
O trabalho é útil? Sim, você ganha dinheiro e sobrevive. Sim, no meu caso, ensino as paradas para as crianças, elas aprendem e me devolvem em forma de provas, provando assim que aprenderam (áh vá?).
Por vezes, ensino coisas úteis prá caramba, como as bacias hidrográficas do Brasil, por onde correm, de onde surgem, para que servem. Porém, as coisas mais inúteis são as mais legais, como por exemplo, discutir os conceitos de utilidade e inutilidade. (Há um exemplo de ironia - recurso bastante útil - nesse parágrafo, valeu?)
mas falando do trabalho, algo útil para a sua sobrevivência, pode ser chato, muito chato mesmo. Bem, o que fazemos para tornar o trabalho chato, mais legal? Dependendo da situação podemos cantar, ouvir música. Talvez isso se aplique as formas mais alienantes (apesar de que aqui esse conceito pode ser discutido, e essa discussão pode ser muito chata... porém muito útil - sem ironias).
Não sei, mas a arte, o livre pensamento, o conhecimento não pragmático são importantes. Muito. É o que dá sentido à nossas vidas.
Aliás, para que serve viver? já sei, vou cortar meus pulso... brincadeira, não sou tão emuxo assim...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Um conto em 10 minutos


Todo dia ele saía para ver o Sol se por. Todo dia ele amarrava os cadarços, vestia sua camiseta branca e chorava com a novela das oito. Todo dia ele abria os olhos, piscava, jogava uma água no rosto e conferia se após a escovação, sua boca ainda cheirava a latrina.
Nunca havia sido traído por uma namorada vírgem, dirigido um fusca azul ou transado drogas pesadas. Nunca viu a neve, caiu de cara nas areias de um deserto ou experimentou a água do mar para ver se era salgada.
Odiava cebola, pessoas que tocam em você para falar, ou que ficam repetindo "entende?". Que pensam? Não era retardado.
Sente medo da morte, vê a morte em cada esquina e acena para ela com um sorriso cínico entre os dentes amarelados pela cafeína.
Adora campos floridos. Adora montes verdejantes. Adora filmes com estrutura não linear, mesmo sem saber o que isso significa.
Em um dia ele não saiu para ver o Sol se por, esqueceu seus sapatos e pôs uma camisa vermelha. Sentou em frente a sua TV e mudou de canal de maneira descontrolada. Fugiu de si mesmo e em um instante de lucidez viu seu próprio corpo ser arrastado para um carro preto, ser enfiado em um porta malas pequeno, sem ventilação e ser jogado dentro um lago escuro, mesmo porque já era noite, e a Lua clareou suas mãos ensanguentadas, enquanto gritava que não sabia nadar.
Foi a última vez que sentiu em seus pulmões ar, antes de tê-lo preenchido por água com gosto de barro e pensar que aqueles malditos só queriam seu álbum da Copa do Mundo de 1994...

domingo, 13 de junho de 2010

A busca do Tao


As dicotomias presentes na nossa vida, as polaridades, os opostos, claro-escuro, noite-dia, luz-trevas, alma-corpo, cima-baixo, todos esses elementos formam a nossa concepção binária de mundo. Apesar de um computador agir mediante os nºs zero e um, pode fazer coisas impressionantes e complexas. Da mesma forma sociedades, filosofias, modos de pensar e agir são regidos por esses princípios.
Mesmo em termos de categorias, sempre fazemos usos binários, mesmo que no fim das contas esse uso seja dialético - aqui entendida como superação, transformação.
As coisas se movimentam em torno dessas dualidades, As coisas vivem, morrem, são construídas e destruídas, superadas, ultrapassadas, ressignificadas. Aqui entra então um novo ciclo de construção e destruição. Ideias são formadas, superadas e transformadas. o bom e o ruim, o idiota e o inteligente... todos eles são parte de um mesmo em busca de algo. Em uma perspectiva mais ampla, os mistérios que compõem a vida, são colocados em clara oposição entre o conhecido e o desconhecido. E entre esses mistérios está a oposição mais clássica, entre Deus e o Demônio. Neste mesmo processo de oposição e transformação, podemos afirmar que Deus fez o bem bem, o bom, e que o cramunhão fez o mal, o tenso, o ruim... porém olhando assim temos apenas um maniqueísmo (oposição clássica entre bem e mal, por exemplo) e o processo de transformação, superação não pode existir. Porém podemos analisar isso como um ciclo em que as forças se opõem, mas não são opostos e sim partes do mesmo. Sendo assim, Deus contém o Demonônio, o bem contém o mal, e o oposto também se fará verdadeiro. E isso é necessário pois para que um exista, é necessário que o outro também exista. O movimento não é aparente. Quando pensamos em oposição pensamos de maneira relacional, e sempre pensamos assim. Assim, o antônimo contém o sinônimo. E vice-versa.
Dessa forma a oposição é superada pelo movimento, que é superada pelo superação do próprio movimento e pelo movimento seguinte.
A luta entre claro e escuro terá um vencedor? Haverá um tempo em que a noite vencerá o dia? Não. Pois para que um exista o outro também deve existir.
Se os caminhos existem, devemos então trilhar os melhores, apesar de que bons caminhos sõ existem em oposição aos maus. E para onde leva esse caminho? O oposto de ir é voltar. Ou seja, quando se vai se volta para o local de origem, sacou? Assim, como não sabemos de onde viemos, nem para onde vamos, nos resta apenas o caminho. Nos resta apenas o Tao.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Faça você mesmo!!!

Na época da faculdade sempre tinha um carinha que aparecia por lá e vendia umas camisetas. Todas feitas por ele, com pinturas de artistas conhecidos e frases ou poemas de intelectuais. Até hoje me arrependo de não ter comprado nenhuma. o mais legal no entanto era que cada camiseta daquela era invariavelmente exclusiva, fruto da imaginação única daquele homem. Se as imagens e frases não eram dele, a junção de ambas eram.
Eu já fiz as minhas camisetas. É lógico que a falta da técnica fez com que o trabalho ficasse porco. Mas não é problema. Uso mesmo assim. E sabe por quê? Eu fiz.
Outro dia discutia com meus alunos como fugir do processo globalizatório que homogeneiza tudo. A conclusão foi bem simples: vamos ter que dar valor para as pessoas que fazem coisas na nossa cidade, seja uma camiseta, um vestido, um chapéu. O grande barato da moda é ser exclusivo, mas como se as coisas são criadas e vendidas em massa? Aí você tem que pagar bem caro. Mas há uma saída.
O sistema é bem simples. Sabe aquele hippie da praça que faz grafite em camisetas? Valorize o trabalho dele. Quer um tênis exclusivo? Compre um branquinho e mande esse hippie desenhar no seu tênis. Por quê? Bem se você comprar um Adidas, ele será fabricado na China, Vietnã ou Malásia. Esses trabalhadores ganham um salário minúsculo, além de não ter quaisquer garantias. O grosso da grana irá para investidores nos EUA. Aqui no Brasil, lucram o dono da importadora, da loja. O transporte gerá poluentes, a fabricação não respeita regulamentações ambientais.
Se for feito aqui, além, de dar oportunidade para a nossa gente, a grana irá girar aqui mesmo, fortalecendo as economias locais. E mais você poderá dizer que tem um estilo de vida que fortalece esse tipo de economia.
Eu, particularmente, demorei para perceber isso. Mas ainda há tempo.
Pense nisso!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Porque eu odeio Pokémon...


Eu já disse isso para algumas pessoas, mas vou enfatizar a coisa por aqui. Imagine que você estivesse andando em uma floresta e então você encontra um animal qualquer, como um tatu. Você pega esse tatu e coloca ele em uma gaiolinha. Você pensa: "Tem muitos tatus por aí, esse eu vou criar como animal de estimação". Então encontro com um amigo que tem um macaquinho. Resolvemos então que será excelente para eles brigarem, um contra o outro. Depois que um dos dois perde, levamos ao veterinário onde posteriormente sairá pronto para outra. Que tal?
É isso que acontece em Pokémon.
Fico imaginando como seriam todos aqueles pokémons livres na natureza... Eles poderiam andar, caçar, fazer inúmeras coisas. Mas precisa ter alguém para confiná-los em poke-bolas e botá-los para brigar.
"É só um desenho!" muitos devem pensar, mas a lógica é a mesma. existe um sentido presente em muitas ações que se relaciona ao naturalizar as coisas. Quando eu naturalizo a violência, por exemplo, eu acabo ficando indiferente a ela. Muitas pessoas discutem se a violência dos games, da TV, pode transformar as pessoas em seres violentos. O problema no entanto é que a mega exposição a violência pode nos deixar insensíveis a ela. A coisa se torna natural. E aí não ligamos.


Briga de galo: O Pokémon da vida real


Tem muita gente que é contrária a touradas mas adora rodeios... o princípio é o mesmo, agressão contra a parte que não pode se defender. Por isso sempre torço para o touro. Torço para o cachorro, o galo, o pokémon ao invés do humano.
Sei que parece que odeio a humanidade. Não, eu amo a humanidade, só não suporto as pessoas.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu perdi a minha mente...


É comum vermos coisas novas, que nos atropelam, sem que possamos compreender de onde vêm. O fato é que a indústria cultural nos traz mais informação do que somos capazes de captar. Por mais que tentemos ficar a frente, jamais conseguimos. Por quê? Por ser impossível. Vamos aos fatos.
Uma aluna me disse hoje que alguém faltou a aula por ter ido assistir um show de uma tal de Demi Lovato. Quem é? Não sei...
Agora, outro figura da moda é um menino chamado de Justin Bieber. Como ficou famoso? Quais suas qualidades? Não tenho ideia.
Outro dia assistindo a MTV fui chamado a atenção para uma nova cena no rock n' roll. Seria algo denominado Happy Rock. Bandas como Cine, Restart, Replace são seus representantes. Até pouco tempo eram os EMO's, agora são os felizes. Trocaram lâminas de barbear cortando pulsos por calças apertadas e bonés pretos e coloridos. o mundo é azul, rosa e amarelo.
Como se situar em um mundo cheio de elementos novos, movido a um ritmo frenético? Essas novas figuras certamente estarão soterradas e pertencerão a um passado junto com New Kids On the Block, Backstreet Boys e Spice Girls. Novas coisas surgirão serão "vanguarda" repetindo as mesmas tosqueiras que já vimos anteriormente.
Se você está perdido com esse novo cenário, não se preocupe. É normal. A rapidez com que vem e vão, são semelhantes a um videoclipe com imagens desconexas que passam e somem.



Falando nisso, olha só o que meus queridos alunos aprontaram... Eu perdi minha mente...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O que aprendi em São Luís do Paraitinga


Neste fim de semana tive que fazer uma das piores escolhas: ou ficar em Caraguá e asistir ao show do Sepultura e Plebe Rude na Virada Cultural, ou ir até São Luís do Paraitinga na \Festa do Divino Espírito Santo. Como viram, pelo título, fui a São Luís. Ou seja, contrapus toda a minha formação cultural ligada ao rock n' roll, ao metal e ao punk, para assistir um dos maiores encontros de cultura popular de nossa região.

Uma parte de mim dizia: "fique, vá ver o Clemente tocando com a Plebe" e a outra dizia: "vá ver o exótico de nossa cultura". O que vi não foi nenhum pouco exótico, e sim vivo. Os homens fazem coisas sem entender porque fazem e a minha intenção lá foi justamente compreender, estudar, abrir os olhos para aquilo (nem de mais, nem de menos). Quando vi o primeiro moçambique, com crianças que participavam de um projeto cultural de um bairro carente de São Luís, apenas pensei: "é a tentativa de resgatar a cultura tradicional, folclórica". Quando vi, a noite, velhinhos tocando tambores pesadíssimos em uma congada e louvor a São Benedito, de fronte ao Império do Divino (local escolhido para abrigar os símbolos relacionados ao culto do Divino Espírito Santo - para quem não lembra a igreja não resistiu as chuvas de final e início do ano), percebi que não era questão de resgate, não havia nada a ser resgatado, era algo vivo. As vestes, todos de branco, muito puido, mas cantando e tocando com louvor. Quando o mestre da congada se benzeu sobre as fitas da bandeira com a imagem de seu santo de devoção, percebi que aquilo era mais que música.

Ainda assim pensei "são velhos, logo morrem e quem irá continuar?" Mas logo vi que estava enganado, quando vi no dia seguinte, após uma madrugada de frio intenso, acampado a beira de um rio, sobre um colchão de ar furado, que quando esvaziou gelou as minhas costas como se estivesse em um frigorífico, uma congada, às 6 horas da manhã, percorrendo as ruas de São Luís, com mulheres, jovens, adultas e crianças, com um sentimento devocional comovedor. Todas vestidas com vestidos de cetim e xita, a dançar e louvar. A mulher que puxava a cantoria, uma senhora vestida de branco lembrava mais uma mãe de santo e cantava o seu louvor ao divino e a virgem Maria.

Bem, ali estava algo que não iria morrer, não estava sendo resgatado, não era falso, forjado, mas vivo estava e irá permanecer assim.

Essa foi a lição nº 1: A cultura vive, não sobrevive, não é forjada, mas sentida, não morre, se reproduz como uma fênix, e quando você pensa que ela já foi, olha só ela te dando um tapa na cara e mandando você engolir seus preconceitos e ressentimentos.